A morte de uma lagarta: uma tipologia do sacrifício de Jesus Cristo.


A morte de uma lagarta: uma simbologia da morte de Jesus Cristo.



Em Êxodo Capítulo 25 o SENHOR revela a Moisés o seu plano Divino para a construção do Tabernáculo. Logo no início do capítulo Deus manda Moisés dizer aos israelitas que tragam ofertas voluntárias a Ele. Essas ofertas são enumeradas nos versículos que se seguem, elas eram compostas por especiarias acumuladas por seus antepassados (DAVIDSON, 1994).

Entre as ofertas que deveriam ser oferecidas voluntariamente pelo povo, estava o carmesim (v,4), cuja tradução fiel aos escritos originais é literalmente “verme escarlate”, fazendo referência a um inseto do gênero Kermes da espécie Kermes ilicis, ou Coccus Ilicis, que é frequentemente encontrado como uma lagarta que produz um corante escarlate (corante carmesim) o qual é obtido dos corpos secos da fêmea Kermes ilicis. Esse corante vermelho natural foi muito usado na antiguidade pelos egípcios, gregos, romanos e israelitas. Os israelitas, por exemplo, pegavam as partes do corpo da lagarta que ficavam presas nos carvalhos para serem moídas e usadas como tingimento de tecido.[1]



Características marcantes do verme escarlate.

A minúscula lagarta - com 7 milímetros de diâmetro no máximo - é notável por sua cor vermelha acastanhada quando jovem, tornam-se mais avermelhada quando amadurece. De acordo com a 11ª edição da The Encyclopaedia Britannica , quando os insetos atingem a maturidade em março, eles “aparecem cheios de um suco avermelhado semelhante a sangue descolorido[2]”.

Segundo o dicionário de Brown, Driver e Briggs (BDB), quando a fêmea da espécie verme escarlate estava pronta para dar à luz de seus filhotes, ela prendia seu corpo ao tronco de uma árvore (geralmente carvalho). Os ovos depositados sob seu corpo eram assim protegidos até que as larvas eclodissem e pudessem entrar em seu próprio ciclo de vida. Quando a mãe morria pregada à árvore, o fluido carmesim manchava o seu corpo e o corpo dos filhotes e a madeira ao redor. Dos cadáveres desses vermes é que eram extraídos os corantes escarlates comerciais da antiguidade. 



Qual a relação desse inseto com a morte de Cristo? 

Em primeiro lugar temos que entender  que  o carmesim do verme escarlate tem uma profunda ligação com a cultura do povo de Israel. Nos tempos de Moisés, por exemplo, o carmesim era  usado na cerimônia de purificação das casas que tinham praga (Lv 14:34-52). O carmesim também era usado como ingrediente misturado à cinza de novilha na preparação da água de purificação, para purificar alguém que tinha tocado em um cadáver (Nm 18:1-12). O corante carmesim também foi usado nas cortinas do Tabernáculo (uma figura de Cristo). 

No caso de Raabe, os espias a instruíram a pendurar um cordão escarlate do lado de fora da janela de sua casa, que ficava no muro da cidade (Js 2:18). Quando o exército de Israel tomasse a cidade, o cordão identificaria a casa dela como um "lugar de segurança". A cor desse cordão lembra o sangue. Assim como o sangue nos umbrais das portas no Egito marcou as casas sobre as quais o anjo da morte deveria passar (Êx 12:1-13), o cordão escarlate marcou a casa no muro de Jericó, cujos ocupantes deveriam ser protegidos pelos soldados de Israel (WIERSBE, 2009).

No Salmo 22:6, um salmo messiânico, Davi retrata como os israelitas desprezaram o Messias pregado na cruz do calvário e, falando de si mesmo, porém apontando para Cristo, descreve:

Eu sou um "verme" e não um homem. 

A palavra “verme” no original é Tola e, refere-se especificamente ao verme carmesim. O Tola / Kermes ilicis também deve se sacrificar para ter filhos. Não pode ter filhos sem morrer, pois se liga para sempre à árvore para proteger seus filhotes enquanto eles esperam nascer em seu devido tempo. Além disso, esses filhotes se alimentam de sua mãe para o sustento inicial antes de sair para o mundo. Esses fatos são paralelos diretos ao Messias, que teve que morrer para ver uma colheita. É dEle que também devemos participar simbolicamente na refeição da Páscoa.



O fato de esse aspecto sacrificial do verme acontecer na madeira de carvalho é em si intensamente significativo. A morte do Messias ocorreu na madeira da cruz, e a declaração de Tola aqui no  Salmo 22:6  pode ser tomada como profética de quando Ele foi afixado na cruz, pois a passagem continua falando de mãos e pés sendo “pregados”.

Salmo 22:6-17
6 Mas eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo.
7 Caçoam de mim todos os que me veem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim, dizendo:
10 Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o meu Deus.
8 "Recorra ao Senhor! Que o Senhor o liberte! Que ele o livre, já que lhe quer bem!"
9 Contudo, tu mesmo me tiraste do ventre; deste-me segurança junto ao seio de minha mãe.
11 Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra.
12 Muitos touros me cercam, sim, rodeiam-me os poderosos de Basã.
13 Como leão voraz rugindo, escancaram a boca contra mim.
14 Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo.
15 Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte.
16 Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés.
17 Posso contar todos os meus ossos, mas eles me encaram com desprezo.

Desse modo, partindo da premissa que todas essas coisas eram sombras que apontavam para uma realidade futura que é Jesus Cristo (Cl 2:17), podemos concluir que Deus através da morte sacrificial dessa lagarta, em prol dos seus filhotes, estava nos dando uma ilustração da morte sacrificial do seu filho Jesus Cristo, pelo seu povo, morrendo no madeiro e derramando o seu precioso sangue carmesim  para conduzir seus filhos à glória(Hb 2:10). Ele morreu por nós, para que pudéssemos viver por meio dele! O Sl 22.6 descreve Jesus como verme carmesim e apresenta-nos este quadro de Cristo. (cf. Is 1.18)


Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata,  eles se tornarão brancos como a neve;  ainda que sejam vermelhos  como o carmesim, se tornarão como a lã. 

Portanto, quando alguém lê que o Messias chamou a Si mesmo de “verme”,  é muito mais do que uma declaração de autopiedade, mas uma proclamação poderosa de Seu propósito surpreendente para a redenção da humanidade. Ele assumiu a natureza de um inseto aparentemente insignificante que se doou pelo homem e pelo futuro de sua própria descendência. O verme é um retrato da abnegação do amor e do generoso dom dado voluntariamente pelo Messias Yeshua às Suas ovelhas[3].

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Referência

DAVIDSON, Francis et al. O novo comentário da Bíblia. Edições Vida Nova, 1994.

[1] Artigo da Enciclopédia da Vida sobre Kermes ilicis. 

[2] Salmo 22:6 - Eu Sou um Verme. Precept Austin Org, 2016. Disponível em: https://www.preceptaustin.org/psalm_226-i_am_a_worm. Acesso em: 02. dez. 2022.

BROWN Francis; S. R. DRIVER & Charles BRIGGS (eds.). A Hebrew and English lexicon of the Old Testament. Based on the Lexicon of Willian Gesenius. Oxford: Oxford University Press, 1906/1951.

WIERSBE, Warren W. Antigo Testamento - Volume I. São Paulo: Geografia, 2009.

[3] ↑ SPRINGFIELD, Jeremy Chance. MESSIAH THE  WORM. Random Groovy Bible Facts. Disponível em: https://www.randomgroovybiblefacts.com/messiah_the_worm.html Acesso em: 04. dez. 2022.





 

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